06/11/2009

Lectio Divina - 09 de Janeiro ou quarta-feira depois da Epifania


REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA


(LECTIO DIVINA)


Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm


09 de Janeiro ou quarta-feira depois da Epifania


1) Oração


Ó Deus, luz de todas as nações,

concedei aos povos da terra viver em perene paz,

e fazei resplandecer em nossos corações aquela luz admirável

que vimos despontar no povo da antiga aliança.

Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,

na unidade do Espírito Santo.


2) Leitura do Evangelho (Marcos 6, 45-52)


Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Marcos - 45Imediatamente ele obrigou os seus discípulos a subirem para a barca, para que chegassem antes dele à outra margem, em frente de Betsaida, enquanto ele mesmo despedia o povo. 46E despedido que foi o povo, retirou-se ao monte para orar. 47À noite, achava-se a barca no meio do lago e ele, a sós, em terra. 48Vendo-os se fatigarem em remar, sendo-lhes o vento contrário, foi ter com eles pela quarta vigília da noite, andando por cima do mar, e fez como se fosse passar ao lado deles. 49À vista de Jesus, caminhando sobre o mar, pensaram que fosse um fantasma e gritaram; 50pois todos o viram e se assustaram. Mas ele logo lhes falou: Tranqüilizai-vos, sou eu; não vos assusteis! 51E subiu para a barca, junto deles, e o vento cessou. Todos se achavam tomados de um extremo pavor, 52pois ainda não tinham compreendido o caso dos pães; os seus corações estavam insensíveis. - Palavra da salvação.


3) Reflexão


* Depois da multiplicação dos pães (evangelho de ontem), Jesus obriga os discípulos a entrar no barco. Por que? Marcos não explica. O evangelho de João informa o seguinte. De acordo com a esperança da época, o Messias iria repetir o gesto de Moisés de alimentar o povo no deserto. Por isso, diante da multiplicação dos pães, o povo concluiu que Jesus devia ser o messias esperado, anunciado por Moisés (cf. Dt 18,15-18) e quis fazer dele um rei (cf. Jo 6,14-15). Este apelo do povo era uma tentação tanto para Jesus como para os discípulos. Por isso, Jesus obrigou-os a embarcar. Queria evitar que eles se contaminassem com a ideologia dominante, pois o “fermento de Herodes e dos fariseus”, era muito forte (Mc 8,15). Jesus, ele mesmo, enfrenta a tentação por meio da oração.

* Marcos descreve com arte os acontecimentos. De um lado, Jesus sobe o monte para rezar. De outro lado, os discípulos descem para o mar e entram no barco. Parece até um quadro simbólico que prefigura o futuro: é como se Jesus já subisse para o céu, deixando os discípulos sozinhos em meio às contradições da vida, no barquinho frágil da comunidade. Era noite. Eles estavam em alto mar, todos juntos num pequeno barco, querendo avançar remando, mas o vento era contrário. Estavam cansados. Já era a quarta vigília, isto é, entre 3 e 6 da madrugada. As comunidades do tempo de Marcos eram como os discípulos. Noite! Vento contrário! Não conseguiam nada, apesar de todo o esforço que faziam! Jesus parecia ausente! Mas ele estava presente e vinha até elas, mas elas, como os discípulos de Emaús, não o reconheciam (Lc 24,16).

* No tempo de Marcos, em torno do ano 70, o barquinho das comunidades enfrentava o vento contrário tanto de alguns judeus convertidos que queriam reduzir o mistério de Jesus ao tamanho das profecias e figuras do Antigo Testamento, como de alguns pagãos convertidos que pensavam ser possível uma certa aliança da fé em Jesus com o império. Marcos procura ajudar os cristãos a respeitar o mistério de Jesus e a não querer reduzir Jesus ao tamanho dos próprios desejos e idéias.

* Jesus chega andando sobre as águas do mar da vida. Eles gritam de medo, porque pensam que se trata de um fantasma. Como na história dos discípulos de Emaús, Jesus faz de conta que quer seguir adiante (Lc 24,28). Mas o grito deles faz com que ele mude de rumo, se aproxime deles e diga: “Calma, gente! Sou eu! Não tenham medo!” Aqui, de novo, quem conhece a história do Antigo Testamento, lembra alguns fatos muito importantes: (1) Lembra como o povo, protegido por Deus, atravessou sem medo o Mar Vermelho. (2) Lembra como Deus, ao chamar Moisés, declarou várias vezes o seu nome dizendo: “Sou eu!” (cf. Ex 3,15). (3) Lembra ainda o livro de Isaías que apresenta o retorno do exílio como um novo êxodo, onde Deus aparece repetindo inúmeras vezes: “Sou eu!” (cf. Is 42,8; 43,5.11-13; 44,6.25; 45,5-7). Esta maneira de evocar o Antigo Testamento, de usar a Bíblia, ajudava as comunidades a perceber melhor a presença de Deus em Jesus e nos fatos da vida. Não tenham medo!

* Jesus sobe no barco e o vento pára. Mas o espanto dos discípulos, em vez de terminar, aumenta. O próprio evangelista Marcos faz um comentário crítico e diz: “Eles não tinham entendido nada a respeito dos pães. O coração deles estava endurecido” (6,52). A afirmação coração endurecido evoca o coração endurecido do faraó (Ex 7,3.13.22) e do povo no deserto (Sl 95,8) que não queria ouvir Moisés e só pensava em voltar para o Egito (Nm 20,2-10), onde havia pão e carne com fartura (Ex 16,3).

4) Para um confronto pessoal


1. Noite, mar agitado, vento contrário! Você já se sentiu assim alguma vez? Como fez para vencer?

2. Você já se espantou alguma vez porque não reconheceu Jesus presente e atuante em sua vida?


5) Oração final


Ele se apiedará do pobre e do indigente,

e salvará a vida dos necessitados.

Ele o livrará da injustiça e da opressão,

e preciosa será a sua vida ante seus olhos. (Sl 71, 13-14)



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